SINTEC

Publicado: 17/06/2025 às 20:48

Os Desafios da dupla jornada de mães professoras na atualidade

Ser mãe e professora simultaneamente na atualidade impõe uma série de desafios complexos, intensificados pelas crescentes demandas de ambas as funções. A realidade dessas profissionais é marcada por uma dupla jornada que exige constantes malabarismos entre as responsabilidades do lar e as exigências da sala de aula.

Entre as principais dificuldades enfrentadas, a sobrecarga de trabalho e o esgotamento se destacam. Professoras já lidam com extensas horas de planejamento, correção de trabalhos, aulas e formação continuada. Ao adicionar as tarefas domésticas, os cuidados com os filhos (alimentação, educação, saúde, lazer) e a gestão familiar, o tempo livre se torna escasso, levando a um esgotamento físico e mental significativo. “A pressão para dar conta de tudo tem gerado estresse, ansiedade e até mesmo síndrome de burnout”.

Essa rotina intensa muitas vezes impede que as mães professoras dediquem tempo de qualidade aos filhos, ao parceiro e a si mesmas. Momentos de lazer, autocuidado e desenvolvimento pessoal são frequentemente sacrificados em prol das inúmeras obrigações. Isso pode gerar sentimentos de culpa e frustração, afetando o bem-estar emocional.

A rigidez dos horários escolares nem sempre se alinha com as necessidades dos filhos, especialmente em casos de doenças, reuniões escolares dos próprios filhos ou imprevistos, o que representa um desafio na conciliação de horários. A busca por creches ou cuidadores em horários compatíveis com a jornada de trabalho se torna uma dificuldade adicional, agravada pela ausência de uma rede de apoio familiar.

Existe uma pressão social implícita para que a mãe seja sempre presente e dedicada à  família,  enquanto  a  professora  deve  ser  inovadora  e  eficaz  em  seu  trabalho.

“Equilibrar essas expectativas irreais gera uma pressão interna imensa para performar excelentemente em ambos os papéis, sem margem para falhas”.

O impacto da tecnologia e do ensino híbrido também é notável. A pandemia acelerou a digitalização do ensino, e mesmo com a volta às aulas presenciais, o uso de tecnologias e plataformas digitais se manteve. Para muitas mães professoras, isso significou uma curva de aprendizado adicional, além da necessidade de adaptar o ambiente doméstico para o trabalho remoto, muitas vezes dividindo computadores, celulares e internet com os filhos em casa. Embora a tecnologia possa ser útil, ela também é exaustiva, pois, na maioria das

vezes, famílias e alunos não respeitam o horário de trabalho das professoras, e ligações e mensagens fora do horário são comuns. Outra questão a salientar é que muitas vezes as escolas não possuem internet com capacidade suficiente para que as professoras realizem suas atividades burocráticas na própria escola, o que as obriga a realizarem essas atividades em suas casas. Essa realidade exige uma flexibilidade e disponibilidade que impactam diretamente a vida familiar.

Em muitas instituições de ensino, ainda há poucas políticas de apoio efetivo às mães professoras, como horários flexíveis, creches no local de trabalho ou programas de bem- estar específicos. “A falta de reconhecimento das dificuldades inerentes a essa dupla jornada pode fazer com que essas profissionais se sintam desvalorizadas e sem o amparo necessário”.

Por fim, a maternidade pode impactar negativamente a progressão da carreira profissional da professora, seja pela impossibilidade de participar de cursos noturnos, eventos acadêmicos ou pela necessidade de reduzir a carga horária, o que pode atrasar promoções e oportunidades de desenvolvimento profissional.

Em suma, as mães professoras enfrentam um cenário complexo que exige resiliência e constante adaptação. O apoio da família, da escola e a implementação de políticas públicas e institucionais que reconheçam e minimizem essas dificuldades são cruciais para garantir o bem-estar dessas profissionais e a qualidade do ensino que elas oferecem.

Assinado por –

Rachel Pereira de Melo
Secretária do SINTEC

Professora da rede Municipal de ensino de Cupira/PE desde 2007, com formação em Letras e especialização em Língua Portuguesa e suas Literaturas pela UPE (Universidade de Pernambuco – Campus Garanhuns).