Publicado: 19/11/2025 às 14:30
Lutas, conquistas, sabores e dissabores do trabalho educativo em área quilombola
É chegado mais um mês de novembro e, com ele, mais precisamente o dia vinte. Assim como em todos os demais meses que compõem o nosso calendário gregoriano, este mês traz uma data especial: o Dia da Consciência Negra. Para muitos, trata-se apenas de um feriado; porém, para nós que fazemos parte de comunidades quilombolas, esse dia representa muito mais que descanso. “É um símbolo de lutas, conquistas e resistência — pois não foi fácil alcançar o reconhecimento nacional que hoje possuímos”.
Nós, das comunidades quilombolas de Furnas e Pé de Serra dos Mendes, no município de Agrestina-PE, somos prova viva de que não há glória sem luta. “Nosso nome é resistência e persistência. Enfrentamos desafios diários desde a chegada dos povos europeus, que colonizaram e exploraram os povos indígenas”. A situação tornou-se ainda mais difícil com a chegada dos povos negros, trazidos de diversas regiões do continente africano. Mesmo assim, nossos ancestrais mostraram que podemos ir muito além do que imaginamos.
Os primeiros registros de posse de terras por parte de homens brancos na região onde hoje se encontra a Vila Pé de Serra datam de 18 de março de 1727 (livro Altinho, p. 197, Barbalho Nelson). Desde então, a presença dos negros no trabalho braçal daquela área se tornou evidente. No entanto, quase 300 anos depois, muitas pessoas ainda têm vergonha de serem reconhecidas como descendentes quilombolas, pois seus ancestrais sofreram massacres, humilhações, dores profundas e perdas irreparáveis — fatos que, infelizmente, não são lembrados como deveriam.
No campo educacional, as lutas são constantes para que possamos, a partir do chão da escola, fazer nossas crianças compreenderem o verdadeiro sentido de valorizar e defender as conquistas de nossos antepassados. A cada dia buscamos promover um novo olhar na sociedade acerca do que realmente significa ser quilombola, já que grande parte das pessoas ainda não tem orgulho do que foi vivido no passado — e isso reflete diretamente na atualidade.
Portanto, seguimos fazendo o nosso “trabalho de formiguinha”: um passo de cada vez. É mais fácil negar a existência daquilo que não se conhece; por isso, estamos começando a vivenciar e mostrar ao nosso povo o quanto é gratificante fazer parte da história de um povo marcado por lutas e conquistas diárias. Saber que nossos ancestrais lutaram tanto por reconhecimento nos inspira a continuar somando esforços e
celebrando vitórias que, por muitos anos, foram sentidas como dissabores, frutos de desenganos e portas fechadas. Hoje, porém, a realidade vem mudando a cada amanhecer.
Podemos afirmar que, após muitos anos de luta, nosso povo das áreas de domínio quilombola sente-se cada vez mais representado pelos avanços e incentivos das esferas governamentais. Nossos descendentes têm sido contemplados em estudos, pesquisas de campo e nas práticas pedagógicas em sala de aula, impulsionadas por políticas de igualdade racial. Podemos citar a PNEERQ, que desde 2023 fortalece o cumprimento das leis 10.639/2003 e 11.645/2008, fundamentadas na Constituição Federal de 1988 e na LDB nº 9.394/1996. Todas essas normas foram criadas para garantir respeito e valorização ao povo negro, em reconhecimento à dívida histórica resultante dos inúmeros percalços enfrentados pelos que nos antecederam.
Diante de tantos desafios vivenciados pelo nosso povo quilombola, percebemos, pelas falas e ações dessa gente tão guerreira, que muito já foi feito — mas ainda há muito mais a se fazer. Avançamos, sim, um passo de cada vez. No entanto, jamais devemos esquecer que nossos antepassados foram os pilares que nos permitiram chegar até aqui. Temos a certeza de que podemos fazer ainda mais pelo nosso povo, sempre lembrando que: “Nem todo quilombola é negro, e nem todo negro é quilombola — mas todos merecem respeito, reconhecimento e políticas que garantam dignidade.”
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